É necessário muito mais que um Doutor para ser Estranho, ou um Quarteto para ser fantástico....
Em minha épica jornada vendo filmes relacionados ao Oscar, eu me deparo com um filme fantástico, até no nome (e não, não é o Quarteto). Capitão Fantástico !
Somente este conceito inicial já o denota como interessante, mas a trama demonstra o choque de realidade que essa família receberá ao ter de encarar a vida urbana devido a circunstâncias maiores.
O longa é um misto de Pequena Miss Sunshine (e como tem elementos deste), com Os reis do verão (2013) e um pouco de Na natureza selvagem (2008). Mas apesar de lembrar elementos dos mencionados ele é originalmente criativo e em sua primeira metade rompe com muitas convenções do qual nos acostumamos na maioria dos filmes atuais. Cheio de dualidades, com muitos momentos : Arghh que soco no estômago do meu ego ! Essa dualidade está presente no pensamento e formação orientada pelo protagonista Ben (Viggo Mortensen) junto a seus filhos. Cada uma das crianças recebe intensiva capacitação que as torna prodígios e isso é usado com sabedoria no roteiro. Todas as situações são extremamente pensadas para demonstrar a cosmovisão tanto da família como da sociedade, em discussões que nos fazem refletir imensamente sobre questões que muitas vezes deixamos a deriva.
É fácil ilustrar essas discussões em uma cena, onde a família de Ben está a mesa com os primos da 'cidade'. Enquanto as crianças acham completamente insano viver com um Smartphone na mão ou jogando um game de luta, os primos acham irônico elas não conhecerem a marca Nike ou mesmo ter comido um fast food. E todo esse pano de fundo serve como base as discussões do consumismo e outros temas que o filme propõe. Nessa cena anida é mostrado toda a franqueza do caráter do pai, que não deixa em momento algum de esclarecer assuntos 'indelicados' como relações sexuais, de maneira direta. Aliás esse é um dos trunfos do longa, mostrar a pureza de caráter e a convicção moral e idealista do protagonista. E isso não é feito com ódio, as diferenças entre pensamento, estilo e decisão são feitas com amor, respeitando sempre o pensamento alheio. Noutra oportuna cena temos a comemoração de um 'feriado' que só eles conhecem, celebrando a morte de um grande humanitário. Uma das crianças questiona porque não comemorar o natal ? E para convencer a todos eles devem entrar em debate e discutir suas convicções, a fim de identificar o porque de fazer isso - ("Celebraremos duendes mágicos ou um grande homem que ajudou outras pessoas"é a lógica usada por Ben).
É impressionante a quantidade de inserções de temas menores com o qual Capitão Fantástico dialoga. Desde o preconceito pela maneira como a família é criada, as crendices, o capitalismo, a rede de ensino, enfim. São muitos e muitos pensamentos que se intercalam a proposta da trama, em meio aoroad-movie com grandiosas cenas numa fotografia serena.
E mais sereno é Viggo Mortensen, a atuação é irretocável e digna de Oscar (que me desculpe Casey Affleck). Ele demonstra força física, serenidade de conceitos sem faltar com pureza e amor. E isso é muito natural na sua atuação, algo muito difícil de ser reproduzido na prática. É um filme humano, que nas mãos do diretor soa quase como independente. Por falar nisso é apenas o segundo longa de Matt Ross, o diretor e roteirista. O desfecho do filme me fez pensar sobre a jornada que essa família teve de fazer e isso também é algo interessante, saber que realmente o longa não termina aqui, ele ecoa em nossas próprias discussões sobre tudo que nos cerca. Há quem dirá que o filme não é corajoso por mostrar opiniões e não assumir um lado, o que venho a discordar pois a intenção é realmente realçar as diferenças e colocá-las em discussão - sem ódio. Até o pretenso vilão da trama, não é realmente um vilão comum, e sim uma pessoa de convicções, cultura diferente e suas intensões não vão ser recriminadas se o espectador entender isso.
Fechando tudo, que trilha sonora !
Para quem já viu - very sweet ....
Capitão Fantástico é realmente Fantástico !